Características, possíveis causas e importância da fisioterapia esportiva

Quem nunca ouviu o comentarista esportivo dizer “foi um estiramento no músculo posterior da coxa”, ou mesmo, “foi apenas uma contratura muscular, o jogador não deverá ficar de fora da próxima partida”.
Praticamente toda semana observamos “baixas” de atletas futebolistas com algum problema de origem muscular. A incidência de lesão muscular no futebol é alta, cerca de 25% á 30% entre as lesões incapacitantes que levam o jogador ao afastamento das atividades por um determinado período.
A lesão muscular é multifatorial, ou seja, muitas vezes apresenta diversos fatores que podemos chamar de fatores intrínsecos e/ou fatores extrínsecos. Basicamente os fatores chamados de intrínsecos são observados ou detectados no próprio atleta, como desequilíbrios musculares entre os músculos das pernas ou mesmo o histórico de lesões. Já os fatores extrínsecos não tem a ver com indivíduo, como o tipo de treinamento ou materiais utilizados de forma inadequada.
Hoje em dia, com a evolução da ciência e dos métodos preventivos, os fisioterapeutas e fisiologistas podem detectar e monitorar alguns possíveis problemas de origem muscular nas avaliações pré-temporada e principalmente no período de recuperação dos jogadores entre os jogos.
De fato existem diversas ferramentas para identificação de possíveis causas de lesões, dentre as quais a termografia que é o registro da temperatura através de uma câmera específica com luz infravermelha. Ela identifica o processo inflamatório através de aumento de temperatura em determinado grupo muscular auxiliando os profissionais no processo de recuperação.
Outra valiosa ferramenta usada já algum tempo é o monitoramento da famosa enzima CK (creatina quinase) retirada após análise de pequena quantidade sangue. Após atividade intensa (jogo de futebol) a CK pode se apresentar em níveis até quase 300% maiores que comparado em níveis de repouso, ou seja, essa enzima acaba “entregando” o quanto de dano muscular esse músculo está se apresentando.
Como todos já sabem, os jogadores de futebol são muito exigidos durante suas rotinas de treinamento e jogos, assim sendo, é necessário que haja um acompanhamento profissional através da equipe multiprofissional com aspectos nutricional, controle de cargas e treinamentos com os fisiologistas e preparadores físicos além do departamento de saúde com os fisioterapeutas auxiliando todo o processo recuperação dos atletas.
Apesar de todo esse controle e trabalho para prevenção de lesões, ainda temos uma grande incidência de lesões musculares. Alguns grupos musculares são mais exigidos na prática do futebol. O futebol apresenta uma grande mobilidade de seus jogadores com diferentes tipos de ações durante a partida, mudanças de direção constantes assim como acelerações e desacelerações em diferentes espaços.
Um bom exemplo, é o grande número de lesões dos isquiostibiais. Parece um palavrão feio, mas nada mais é que o grupo muscular da região posterior da coxa. Quem nunca viu um jogador correndo e levando a mão para traz da coxa? Esse grupo muscular é responsável pela desaceleração da perna durante um chute vigoroso e também como proteção dos joelhos e quadril durante mudanças bruscas de direção. Esse apenas um exemplo de grupo muscular comumente afetado.
Em relação à classificação das lesões, podemos dizer que existem lesões consideradas leves, moderadas e graves, determinando grau da lesão que são divididas em graus I, II e grau III e também o tempo de recuperação através do processo fisiológico do tecido muscular.
As cãibras não entram na classificação de lesão muscular, mas são comumente vistas em jogos com grande intensidade. A cãibra é uma contração muscular involuntária vigorosa que pode estar relacionada à fadiga, desequilíbrio mineral ou mesmo desidratação em casos mais extremos.
As chamadas contraturas são classificadas com lesão muscular grau I, ocorre um grande espasmo muscular muitas vezes como própria proteção do músculo ou articulação. Esse espasmo é vigoroso e doloroso muitas vezes tirando o jogador de combate. Seu tratamento é favorável não levando um grande tempo de afastamento. O exame clínico médico é diagnosticado rapidamente observando o espasmo e dor local, em alguns casos é pedido exame de imagem como ultrassonografia para verificar se existe formação de edema ou liquido (acúmulo de sangue) dentro do interstício ou tecido muscular.
Nas lesões de grau II e III já ocorrem a ruptura de forma parcial das fibras musculares nas lesões grau II e ruptura completa das fibras dos músculos formando um “GAP” nas lesões grau III.
O diagnóstico realizado pelo médico é clínico observando a função muscular através de contrações resistidas que causam muita dor local incapacitando a função desse músculo, muitas vezes são vistas equimoses ou popularmente conhecidos como “roxos” na região. Exames de imagem como ultrassonografia ou ressonância magnética podem ser realizados para averiguar o grau e tamanho da lesão.
A fisioterapia esportiva é indispensável para o tratamento das lesões musculares em qualquer grau ou gravidade da lesão.
Na fase inicial são realizados procedimentos pelo fisioterapeuta para controle de dor e edema, diminuindo o processo inflamatório inicial, isso pode levar alguns dias ou uma semana dependendo do grau da lesão.
É de extrema importância essa abordagem inicial para ótimo remodelamento do músculo. As células que formam o processo cicatricial do músculo necessitam diferenciar em células musculares, se isso não ocorrer pode-se formar a chamada “fibrose” que não apresenta a mesma elasticidade do tecido muscular, podendo trazer grande prejuízo à função do músculo.
Após processo de cicatrização e remodelamento tecidual, inicia-se o fortalecimento do músculo através do movimento que o mesmo promove otimizando a qualidade da contração e sua função, sendo o próximo passo o aperfeiçoamento e treinamento do gesto esportivo.
Após todo esse processo o fisioterapeuta esportivo deixa o atleta apto para recondicionamento físico e tático.
Não existe uma regra como e quais tipos de recursos da fisioterapia esportiva serão utilizados no processo de cicatrização, fortalecimento e melhora da função muscular. Mas claro, que existem já descritos na literatura alguns métodos que aperfeiçoam esse processo. Lembramos que cada indivíduo apresenta uma especificidade e devemos respeitar o processo fisiológico muitas vezes podendo durar algumas semanas de tratamento dependendo do grau e tamanho da lesão.
É verdade que há um grande número de recidivas das lesões mesmo quando todos os passos são seguidos à risca. O jogador de futebol sempre se apresenta no “fio da navalha” em sua constante rotina. Sempre é bom ressaltar os fatores de risco que foram citados no começo da coluna, esses fatores não podem ser negligenciados e dará um grande suporte ao trabalho preventivo.

“Antes de apagar o fogo e resolver os possíveis problemas que irão aparecer na estrutura afetada, devemos nos preocupar em como o incêndio não ocorra”.

Até a próxima!