Por: René Faria | Fisioterapeuta (CREFITO-3/215484-F)

Você já sentiu episódios de “falseios” nos joelhos ou tornozelos? Sente que algumas de suas articulações estão instáveis após sofrer uma torção que não foi tratada? Saiba que esses casos podem ser alterações de seu sistema sensório motor. Continue a ler o texto para entender melhor sobre a importância em treiná-lo e porque ele deve ser incluído em um processo de reabilitação.

Atualmente, treino sensório motor, ou propriocepção, como é mais conhecido, é definido como o “conjunto de informações aferentes oriundas das articulações, músculos, tendões e outros tecidos projetados para o sistema nervoso central (SNC) para o processamento, influenciando as respostas reflexas e o controle motor voluntário”.

O que é propricepção

A propriocepção faz parte de um sistema denominado sistema somato-sensório, que engloba todas as informações mecânicas (mecanorreceptores),dolorosas (nociceptores) e térmicas (termoreceptores) de nosso corpo. As informações proprioceptivas provêm dos receptores localizados nos ligamentos, cápsulas articulares, meniscos e tecidos cutâneos. E dos receptores musculares e tendíneos, conhecidos como fuso muscular e órgão tendinoso de Golgi. As informações proprioceptivas geradas pelos mecanorreceptores são levadas pelas vias aferentes até o SNC, onde serão processadas e programadas novas formas de ativação muscular para estabilizar as articulações.

Sendo assim, a propriocepção contribui para a manutenção da estabilidade articular ativa, que é a capacidade do corpo em resistir e/ou retomar a postura adequada após uma perturbação, sendo determinada principalmente pela ação dos músculos ao redor da articulação. Temos outro tipo de estabilidade que chamamos de passiva, que é a estabilidade oferecida pelos ligamentos, cápsulas articulares, cartilagens, fibrocartilagens e geometria óssea.

Sabe-se que diversas características sensório-motoras se encontram alteradas após uma pessoa sofrer algum tipo de lesão. Uma delas é a diminuição na propriocepção, que gera indiretamente alterações no controle neuromuscular e associado a instabilidade passiva leva a instabilidade ativa, consequentemente, predispondo a novas lesões.

Reabilitação de lesões

Tendo em vista essas informações, podemos ver que o processo de reabilitação deve ser planejado de modo a reverter estas alterações, permitindo aos pacientes o retorno ao nível que eles estavam antes da lesão, através da recuperação da propriocepção com respostas motoras eficientes, estabilização muscular preparatória e reativa, assim, atenuando ou revertendo totalmente a instabilidade ativa originada pela lesão.

É indispensável a prescrição de exercícios proprioceptivos para retorno ao esporte após uma lesão, com o objetivo de restabelecer os déficits originados. O treinamento deve envolver equilíbrio em superfícies instáveis, enquanto o indivíduo realiza atividades funcionais com estímulos conscientes, para estimular a cognição e exercícios inesperados na posição articular para iniciar a atividade reflexa da musculatura. A recuperação deve ser controlada e progressiva, gerando as adaptações sensório-motoras adequadas para estimular a capacidade e confiança do paciente. Vale destacar que a propriocepção é muito treinada em exercícios preventivos, sem necessariamente o indivíduo apresentar uma lesão.

REFERÊNCIAS
LEPORACE G, METSAVAHT L, SPOSITO MMM. Importância do treinamento da propriocepção e do controle motor na reabilitação após lesões músculo-esqueléticas Acta fisiatr 2009; 16(3): 126-131
SOLOMONOW M, KROGSGAARD M. Sensorimotor control of knee stability. A review. J Med Sci Sports. 2001;11(2):64-80.
LEPHART SM, FU FH. Proprioception and neuromuscular control in joint stability. Human Kinetics; 2000.