por Renan Nogueira Gonçalves, Crefito-3/271622-F

 

Devido a pandemia que estamos vivendo, alterações nos treinos acontecem para nos adaptarmos à nova rotina. Mas essa alteração nas cargas de treino tem implicações em nosso corpo e controlar a carga de treinamento é importante, principalmente pensando na volta às atividades físicas pós pandemia.

Um raciocínio clínico utilizando a relação capacidade do indivíduo e a demanda imposta a ele é frequentemente utilizada para se pensar em prevenção de lesões. Quando a capacidade do indivíduo, é maior que as demandas impostas pelo treino, haverá adaptação da demanda imposta. Já o inverso, quando as demandas impostas superam sua capacidade, é provável que uma lesão aconteça.

Dentre as capacidades do indivíduo estão: força muscular, mobilidade articular, resistência, controle neuroumuscular, entre outras. Já as demandas dependem do tipo de esporte praticado, do local onde se pratica, das condições climáticas e principalmente da carga de treinamento.

Há diversas pesquisas demonstrando que cargas de treinamento inadequadas e excessivas resultariam em um aumento de lesões, consequentemente causando dor e perda de desempenho nos treinos e competições.

Lesões prejudicam o seu desempenho. A boa notícia é que, quaisquer lesões que possam ser consideradas relacionados à carga de treinamento, são consideradas evitáveis. É natural que em alguns momentos ultrapassemos a carga de treinos considerada “ideal”, pois para sempre melhorarmos nosso desempenho temos que gerar sobrecargas no corpo para assim nos adaptarmos.

Porém há uma relação entre as cargas de treino. Estas devem ser analisadas para sempre gerarmos um estímulo em que haja uma adaptação à carga imposta, sem gerar lesão.


Quais os tipos de cargas de treinamento?

 

As cargas de treinamento podem ser medidas de diferentes maneiras. A forma mais comum é medindo as cargas internas e externas do treino.

Quando falamos de cargas internas, estamos nos referindo às escalas de esforço percebido (geralmente o BORG modificado que vai de 1 a 10 pontos), frequência cardíaca, idade cronológica, tempo de treino, histórico de lesões e suas capacidades físicas.

Já nas cargas externas, podemos verificar a distância total percorrida, o peso levantado, quantidade de saltos, sprints, entre outros.

Combinadas as cargas internas com as externas, verificamos o resultado das cargas impostas naquele treino.

Essa relação é importante, pois quando analisamos isoladamente essas variáveis, estamos suscetíveis a erros na prescrição. Por exemplo, cargas de treinamento externas idênticas poderiam gerar cargas de treinamento interno consideravelmente diferentes em dois atletas com características individuais muito diferentes.

O estímulo de treinamento pode ser apropriado para um atleta, mas inadequado para outro. Um homem de meia idade com excesso de peso, terá respostas fisiológicas e perceptivas muito diferentes a um esforço do que um atleta treinado. Embora a carga externa de treinamento seja idêntica, a carga interna de treinamento será muito maior nos sistemas desse indivíduo! Como a dose, a resposta ao treinamento varia entre indivíduos, por isso o treinamento deve ser prescrito individualmente.

Porém, verificar apenas a carga de treino imposta em um único treino, não é a forma correta de analisarmos a fim de prescrevermos um novo treino para o atleta. Há uma relação entre as cargas impostas nas últimas três semanas, que consideramos a carga crônica, e as cargas impostas na última semana, que é a carga aguda.

A relação entre a carga aguda e crônica é vital na hora de prescrever a carga que será imposta na próxima semana pelo atleta. Há uma relação ideal entre as cargas para maximizar o desempenho do atleta, consequentemente gerando uma adaptação do sistema. Também é possível diminuir a carga que será imposta sem prejudicar seu desempenho.

Nessa volta aos treinos pós pandemia, tome cuidado com a sua carga de treino. O ideal é que você procure um fisioterapeuta e um profissional de educação física para te auxiliarem nessa retomada, monitorando as cargas e aumentado as suas capacidades para diminuir o risco de sofrer uma lesão.

 

GABBETT, Tim J. The training—injury prevention paradox: should athletes be training smarter and harder?. British journal of sports medicine, v. 50, n. 5, p. 273-280, 2016.
BLANCH, Peter; GABBETT, Tim J. Has the athlete trained enough to return to play safely? The acute: chronic workload ratio permits clinicians to quantify a player’s risk of subsequent injury. British journal of sports medicine, v. 50, n. 8, p. 471-475, 2016.